Rankings — Basta de comparar alhos com bugalhos
12 de julho de 2024
Basta de demagogia e de mistificação em torno dos rankings! Educar é muito mais do que treinar alunos para fazer exames. Tal como a Fenprof tem afirmado, os rankings servem apenas para promover o ensino privado, escondendo as realidades em que colégios e escolas públicas desenvolvem a sua atividade. Comparar a média obtida pelos alunos de colégios e escolas públicas é comparar alhos com bugalhos, sendo lamentável que responsáveis do Ministério da Educação Ciência e Inovação (MECI) venham afirmar que estes rankings são uma mais valia.
Os colégios escolhem os alunos e chegam ao ponto de recusar os que possam prejudicar o seu lugar no ranking. As escolas públicas abrem as suas portas a todos os alunos e garantem-lhes condições de sucesso que, em muitos casos, passa por evitar que haja alunos a abandonar precocemente a escola. Comparar a média obtida pelos alunos de colégios e escolas públicas é comparar alhos com bugalhos, sendo lamentável que responsáveis do MECI venham afirmar que estes rankings são uma mais valia. Acresce que os dados divulgados não são transparentes, pois informações divulgadas sobre a origem dos alunos das escolas públicas são omitidas em relação aos dos colégios privados. Simples esquecimento? Não, não foi.
A Fenprof recorda que diversos países já abandonaram este processo de mal comparar escolas, estigmatizando umas para promover outras. O caso da Irlanda chega a ser paradigmático, com o Supremo Tribunal desse país a dar razão ao Ministério da Educação, que se recusava a entregar os resultados aos jornais, por considerar que essa recusa era a decisão que melhor servia os interesses do sistema educativo irlandês.
Quem se aproveita sempre dos rankings é o diretor-executivo da Confederação Nacional da Educação e Formação (CNEF), Rodrigo Queiroz e Melo, que não perdeu tempo para atacar os concursos de professores. Ademais, aproveitou para voltar a defender um sistema de financiamento público da Educação que trate público e privado como se da mesma resposta se tratasse. A memória dos portugueses não é curta e bem se lembram das muitas situações de abuso que se comprovaram quando isso quase aconteceu, com a celebração de contratos de associação com colégios que não reuniam os requisitos para tais contratos.
Em discussão deveriam estar outros temas e não os que os interesses privados pretendem. Por exemplo:
- Como reforçar os recursos das escolas públicas para que estas deem ainda mais e melhores respostas a todos os alunos, num tempo marcado pela diversidade?
- Por que razão sucessivos estudos confirmam que os alunos provenientes das escolas públicas obtêm melhores resultados no ensino superior do que os que estudaram em colégios privados?
- A quem interessa continuar a usar os rankings para estigmatização das escolas públicas?
- A quem interessa um sistema de avaliação externa de alunos, como o que o governo terá aprovado ontem (11 de julho de 2024), assente em exames a começar logo no 4.º ano de escolaridade?
A Fenprof reitera: os rankings servem apenas para promover o ensino privado. Educar é muito mais do que treinar alunos para fazer exames. Basta de demagogia e de mistificação!
Foto: Pixabay