Rankings não avaliam escolas (2002)

Sindicato dos Professores do Norte / FENPROF

RANKINGS NÃO AVALIAM ESCOLAS

 

No dia em que voltam a ser publicados em Portugal ?rankings? de escolas, a Federação Nacional dos Professores (FENPROF) reafirma a sua rejeição a este sistema de hierarquização das escolas, com base nas distorções e nos equívocos que lhe estão associados, e que a tentativa de contextualização a que assistimos este ano não consegue iludir:

1 Não é possível avaliar uma escola através dos resultados dos alunos em exames nacionais. Como é sabido, os exames avaliam apenas (e mal) alguns produtos do processo de ensino-aprendizagem. A Lei de Bases do Sistema Educativo atribui à escola um conjunto de finalidades, que vão muito para além da instrução. A formação integral dos alunos passa pela aprendizagem de conteúdos mas também pela aquisição de competências e pelo desenvolvimento de capacidades e comportamentos que não são avaliáveis em testes de papel e lápis e cujos efeitos só são muitas vezes visíveis anos mais tarde.

2 Não é legítimo comparar escolas cujas realidades educativas são diversas. Há uma multiplicidade de factores que determinam o quotidiano escolar e que nenhuma escala classificativa poderá expressar. O arremedo de contextualização dos resultados tentado este ano não permite conhecer a realidade concreta de cada escola, ao pôr em pé de igualdade, em termos de resultados esperados, todas as escolas de um mesmo concelho: uma escola secundária pública com uma população escolar heterogénea e frequentada maioritariamente por alunos que vivem em bairros degradados, uma escola pública frequentada por alunos oriundos de meios sociais mais favorecidos ou uma escola privada frequentada por alunos que pagam uma mensalidade superior ao salário mínimo nacional. Também não podem comparar-se escolas que levam 30 alunos a exame com escolas que levam 3000, para referir apenas duas das debilidades dos critérios utilizados.

3 Não se promove a melhoria das piores escolas expondo publicamente o seu alegado insucesso. A experiência de ?rankings? noutros países torna evidente que este sistema representa um obstáculo acrescido à melhoria das escolas situadas no fundo da tabela, resultante da estigmatização negativa de que passam a ser vítimas públicas, que as torna frequentemente alvo de discriminação, com a consequente desmoralização dos alunos, professores e pais. Foi a constatação desta realidade que levou os ministros da Educação de alguns países com tradição na elaboração de ?rankings? (como a Irlanda do Norte ou o País de Gales) a abandonar esta prática.

A ideia de que as escolas são boas ou más consoante os resultados que os seus alunos obtêm em exames nacionais, opinião reiteradamente manifestada  pelo actual ministro da Educação, é incongruente com os objectivos plasmados na Lei de Bases do Sistema Educativo, que pretende transformar uma escola de instrução numa escola de educação, valorizando as várias dimensões da personalidade dos alunos: auto-confiança e autonomia, saberes e competências, atitudes e valores.

Neste quadro, a FENPROF desafia o ministro da Educação a assumir com clareza e de forma inequívoca que a principal (talvez única) tarefa dos professores deve ser a preparação dos seus alunos para os exames nacionais (que este Governo pretende alargar ao ensino básico) e que conceitos como socialização, integração, prevenção da exclusão, habilitação para um mercado de trabalho em constante mutação, educação ambiental, educação para a cidadania e para a paz, e tantos outros, devem passar, na melhor das hipóteses, para segundo plano nas preocupações das escolas e dos professores.

Esta clarificação é o mínimo que se exige a alguém que tanto apregoa a importância do rigor e da transparência, da eficácia e da eficiência. O trabalho dos alunos e dos professores merece ser respeitado!

 

O Secretariado Nacional da FENPROF

 

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