Covid-19 e a conclusão dos cursos profissionais (2020)

08 de abril de 2020

A incerteza e o desconforto que atingiram a população com o repentino encerramento do país e, naturalmente das escolas, trará consequências negativas a todos e, particularmente aos jovens que frequentam o último ano do secundário, entre eles, os que terminam o secundário através de cursos profissionais.

O encerramento das escolas para estes alunos ocorreu quando as atividades letivas estavam quase terminadas. Preparavam-se para completar a sua formação realizando estágios em empresas ou outras organizações e trabalhavam intensamente a PAP - Prova de aptidão profissional.

Tudo está em causa: os estágios, num quadro de encerramento total ou parcial da generalidade das empresas/organizações que contratualizaram os estágios com as escolas, os módulos de disciplinas curriculares que ficaram por concluir, bem como a apresentação das PAP(s) em junho/ julho.

Nos cursos profissionais, o final do 12.º ano e do curso não depende apenas da realização de exames que, em termos de reorganização do ano letivo se podem calendarizar para outras datas e, naturalmente, circunscrever conteúdos aos que foram lecionados em atividades presenciais.

A reorganização das atividades dos alunos que frequentam o último ano dos cursos profissionais exige uma logística mais complexa. Desde logo, exige o empenho, a flexibilidade e a disponibilidade de elementos externos à escola – as organizações e/ou empresas. Algumas destas poderão não ter condições para continuar em atividade, outras terão problemas internos a resolver, o que dificultará a admissão de estagiários, outras verão os estagiários como uma forma de resolver falta de mão-de-obra sem recorrer à contratação…

Outra questão a equacionar é o acesso destes alunos ao ensino superior. Os dados mostram que menos de 20% dos alunos que terminam o ensino secundário pela via profissional acedem ao ensino superior. Acedem ao superior realizando exames nacionais mas este ano o governo já produziu legislação no sentido de possibilitar o seu acesso ao superior pela designada “via alternativa”, isto é, através de um concurso especial em que os candidatos realizam provas específicas, da responsabilidade do ensino superior.

O quadro complexo que se avizinha para que os jovens tenham as melhores condições para concluírem o secundário, reunindo a condição básica para acesso ao ensino superior, não parece o cenário ideal para testar este novo modelo de acesso ao superior, que abrange igualmente os cursos artísticos. 

Não seria mais correto adiar “a via alternativa” e trabalhar na discussão e aprovação de um modelo alternativo aos exames nacionais para o acesso de todos os que concluem o ensino secundário, qualquer que seja a via frequentada, transferindo para o ensino superior a responsabilidade pela realização das provas de seleção para ingresso nas respetivas instituições?!

Anabela Delgadoin #FENPROFemtuacasa

 

 

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