Greve Geral — A narrativa da inevitabilidade e o tempo dos Sindicatos (24/nov/2011)

21 de novembro de 2011

4 de Novembro: Greve Geral

 

A NARRATIVA DA INEVITABILIDADE E O TEMPO DOS SINDICATOS

 

“Vivemos em tempos de crise, essa crise que os neoliberais nos impuseram e que, não lhes bastando essa responsabilidade, procuram fazer acompanhar de um fatalismo paralisante, suporte da ideia de que não há nada mais a fazer, se não prepararmo-nos para novos e mais dolorosos sacrifícios, como mais uma inevitabilidade dos nossos dias cinzentos”. [Abel Macedo (abertura do 7º Congresso do SPN]

Quando em Fevereiro se realizou o 7º Congresso do nosso sindicato, ainda não tinha sido descoberto o “desvio colossal”, mas vivíamos já o tempo da “inevitabilidade”. O governo era outro, mas as políticas de então – de submissão aos interesses dos mercados financeiros – consubstanciavam já um feroz ataque ao Estado Social e aos direitos dos trabalhadores, em particular aos da Administração Pública.

De então para cá, já com outro governo, a narrativa da inevitabilidade assentou arraiais e parece nada mais haver a fazer do que cumprir os ditames da troika. Os cortes na saúde, na educação, na segurança social e na justiça conduzem a sociedade portuguesa para níveis muito próximos dos anteriores a Abril de 75. Na minha opinião, é o próprio regime democrático que está em causa; passa a decidir sobre a nossa vida quem não elegemos… Em nome da inevitabilidade.

Vale a pena lembrar o caso da Grécia. Bastou que o primeiro-ministro grego fizesse a proposta de realização de um referendo no seu país para, como alguém já escreveu, “fazer estalar todo o verniz e trazer à superfície a pulsão autoritária essencial do directório de interesses que está a destruir a União Europeia e a afundar a já reduzida credibilidade das suas instituições”, como se a democracia fosse a responsável pela crise que vivemos e pela amargura em que caíram as nossas vidas.

Se aceitarmos e embarcarmos na narrativa da inevitabilidade, suportada pela chantagem dos grandes interesses económicos e financeiros, como vamos ser capazes de resistir em defesa do que levou anos e anos de muitas lutas e sacrifícios a alcançar? Que futuro ficará para os que virão depois de nós?

 

Estamos na luta. O tempo que vivemos é de grande exigência e de responsabilidade. “É o tempo dos sindicatos”. É o tempo em que os sindicatos são mais uma vez convocados a assumir a sua parte na defesa do Estado Social, com a consciência clara dos ataques de que serão alvo, das tentativas de limitar o espaço que a lei de todas as leis (Constituição da República Portuguesa) lhe confere. Hoje, e mais uma vez, são exactamente aqueles que deveriam ser o garante do cumprimento e da defesa da Constituição, a avançar no caminho da sua descredibilização.

“Não terão êxito. Bem podem continuar a propalar que se esgotou o tempo dos sindicatos, anunciar constantemente a sua falência, apoucar a sua imagem, tentar descredibilizá-los de forma sistemática. Não terão êxito!”. O sindicalismo é indissociável do trabalho assalariado, da precariedade, da luta por melhores condições de trabalho, da luta por uma vida melhor.

É com a determinação de sempre que estamos na luta. É a “inevitabilidade” dos sindicatos; não podemos desiludir os que neles confiam. Mas o futuro não depende apenas dos sindicatos – cada um de nós tem a sua tarefa, também individualmente... Cada um de nós tem que cumprir a sua parte!

 

Henrique Borges, Direcção do SPN 

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