Seminário em Bragança (4/dez)
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Reportagem vídeo: © localvisão TV |
05 de dezembro de 2010
“Temos que passar do paradigma do ensino para o paradigma das aprendizagens, do ensino e da avaliação. Esta é uma pedra de toque fundamental para a construção da escola do futuro”. As palavras são de Domingos Fernandes, professor da Universidade de Lisboa, no seminário que o SPN realizou este sábado, 4 de Dezembro, no auditório Paulo Quintela, em Bragança. A iniciativa, subordinada ao tema “Escolaridade para todos, democraticamente organizada”, inseriu-se no trabalho preparatório do 7.º Congresso do SPN, a realizar em Fevereiro próximo, na cidade de Guimarães.. Além de Domingos Fernandes, participaram Fátima Antunes, da Universidade do Minho, e Cristina Mesquita, da ESE de Bragança. Alice Susano, em nome da Direcção Distrital de Bragança do SPN, apresentou e saudou os três convidados.
“É preciso um sobressalto cívico”
Manuela Mendonça, Coordenadora da Direcção do SPN e membro do Secretariado Nacional da Fenprof, caracterizou os objectivos dos seis seminários preparatórios do Congresso (iniciados em Novembro), tendo sublinhado a necessidade, nestes tempos difíceis, de “dar passos em frente na concretização de uma escola de qualidade para todos, espaço de realização para quem aí estuda e trabalha”. “É preciso um sobressalto cívico” apontado à concretização de “mudanças urgentes na escola”, concluiu.
Dinâmica colectiva em torno da ”reinvenção da escola”
Domingos Fernandes, docente do Instituto de Educação das Universidade de Lisboa, sintetizou uma reflexão sobre “meio século de educação” no mundo, caracterizando os objectivos dos diferentes movimentos, opções políticas, recomendações e reformas que do lado de lá e do lado de cá do Atlântico, particularmente desde o início dos anos 60, se têm sentido na vida dos sistemas educativos, das escolas e dos professores. Na perspectiva de Domingos Fernandes, a primeira década do século XXI foi “o tempo das competências, da nova engenharia do currículo, da prestação pública de contas e da estandardização global”. Agora, é “o tempo da mudança da escola”, com “ênfase nas aprendizagens, na integração teórica, mas meta-teorias, nas novas racionalidades”. É também tempo de desafios e de interrogações…
Em termos de prioridades, o investigador, que, nos tempos de Marçal Grilo na pasta da Educação, foi responsável pelos exames do secundário, chamou a atenção para quatro vectores fundamentais:
- As aprendizagens dos alunos;
- A organização e o funcionamento pedagógico;
- A formação contínua dos docentes;
- O envolvimento dos pais e da comunidade.
Apostando na dinâmica colectiva em torno da ”reinvenção da escola”, salientando que “estudamos pouco o que se passa na sala de aula” e que “a aprendizagem deve estar no centro das preocupações”, o docente da Universidade de Lisboa apontou um conjunto de “reflexões finais”, de que destacamos estas três:
- Há que partilhar as finalidades, a missão, as metas e as estratégias das escolas;
- Há que ensaiar novas lógicas de organização dos tempos, dos espaços e dos recursos;
- Há que repensar seriamente o papel dos alunos e dos professores na vida das escolas.
“O trabalho é a produção das nossas vidas”
Do ensino profissional como parte integrante do sistema educativo, falou Fátima Antunes. Sendo um reconhecido factor de democratização do ensino, o ensino profissional acaba por ser, nos dias de hoje, “uma via subalternizada”, alertou a docente da Universidade do Minho. “Como é que trabalhamos entre nos?”, interrogou, sublinhando que “não tem sido levado em conta o potencial inovador da educação profissional nas suas diversas modalidades”. E insistiu: “Há práticas inovadoras e recursos técnico-pedagógicos que acabam por ser perdidos, que não são partilhados”. Ao longo da sua intervenção, a investigadora falou do alcance dos inquéritos realizados com alunos e professores dos CEFs (cursos de educação e formação do básico) e dos cursos profissionais do secundário, destacando que, nos testemunhos dos alunos, trespassa uma mensagem muito positiva. “Os jovens dizem : agora, eu aprendo; agora eu consigo acompanhar as aulas”. “Há problemas”, reconhece, mas há também um conjunto muito significativo de vontades e perspectivas que merecem ser acarinhadas e apoiadas.
Já da parte de alguns professores dos CEF - referia-se naturalmente ao universo dos docentes contactados para mencionado inquérito - regista-se uma visão “mais negativa”, revelando nos testemunhos recolhidos que “o trabalho é difícil” e que existem “grandes dificuldades nas escolas”. A inovação terá de ser produzida em contextos de trabalho; há que lidar com as novas situações; há experiências e conhecimentos pedagógicos que deveriam ser partilhado entre professores, entre equipas e entre escolas, quer no âmbito dos CEFs, quer no âmbito dos cursos profissionais do secundário; há, numa palavra, que apostar na capacidade colectiva – estas foram notas salientes na comunicação de Fátima Antunes, que lembraria a dado passo: “O trabalho é a produção das nossas vidas”.
“O papel dos educadores é fundamental”
A educação pré-escolar e o 1ºciclo do ensino básico estiveram em foco na intervenção de Cristina Mesquita, que logo no início comentou e mostrou as contradições de vários aspectos da lei no que respeita ao pré-escolar, nomeadamente nas passagens em que o legislador garante que educação pré-escolar é a primeira tapa da educação básica e que incumbe ao Estado contribuir activamente para a universalização da oferta da educação pré-escolar. A relação entre o ingresso em força das mulheres no mercado de trabalho (que no caso português teve particular expressão com a Revolução de Abril) e o alargamento da educação pré-escolar; a desertificação que se faz sentir em diversas regiões do país; e o papel da família na educação dos seus filhos, foram alguns dos temas abordados pela conhecida docente da ESE de Bragança.
A investigadora e dirigente do SPN abordou a responsabilidades do Estado na construção de uma escola de qualidade e perguntou, a dado passo, se as crianças que não frequentam o pré-escolar têm as mesmas oportunidades das outras que o frequentam quando chegam ao 1º ciclo… Falou das consequências negativas e dos riscos da presença da educação pré-escolar nos mega-agrupamentos (deu exemplos de uma escolarização forçada, em que a política do agrupamento aponta para “a formatação e não para o desenvolvimento da criança”), e afirmou ainda: “É o desafio democrático que apela à construção de cidadãos livres, autónomos e solidários que a escola/jardim de infância terá que enfrentar”. Deixou nesta parte da sua intervenção várias interrogações (por exemplo: “como se ajuda a criança a construir o sucesso?”), falou dos desafios da pedagogia participativa e registou:“O papel dos educadores na construção de uma visão democrática do sistema educativo é fundamental, devendo por isso disponibilizar para essa construção o seu saber, as suas experiências e as suas convicções profissionais”.
S. João da Madeira acolhe último seminário
Com o tema “Uma identidade profissional docente dignificada, assente num sindicalismo autónomo, vivo e actuante” – já abordado no seminário de 4 de Dezembro no Porto – decorrerá no próximo sábado, 11 de Dezembro, a partir das 10h00, no Museu da Chapelaria, em São João da Madeira (Aveiro) o último seminário preparatório do 7.º Congresso do SPN. Estão previstas comunicações de AntónioTeodoro, Isabel Baptista e José Augusto Cardoso. / JPO