Aferir, desta forma, para quê?

02 de maio de 2023

As provas de aferição, no presente modelo, datam de 2016. Sempre careceram de uma avaliação dos níveis de eficácia no que deveria ser o seu propósito. Os professores conhecem os alunos, com os quais trabalham diariamente, sabendo muito bem quais as dificuldades e o que fazer para as superar. Na verdade, estas não são provas para aferir, mas para instituir o paradigma e treinar para exames futuros que a atual equipa ministerial parece não ter a coragem política para acabar com elas.

Na altura, em 2016, o ministro da Educação referia que “os processos de aferição se realizam antes da conclusão de cada ciclo de modo a poder agir atempadamente sobre as dificuldades detetadas”. No decorrer da existência deste modelo de aferição, parece verificar-se que as provas não têm servido para qualquer fim.

Ora, os professores conhecem muito bem os alunos com quem trabalham diariamente, sabendo quais as dificuldades que têm e o que fazer para as superar. Por isso, as provas de aferição mais não são que a formalização de um sistema de avaliação, em formato de exame, independentemente do ano de escolaridade, e levam à ocupação de muito tempo da atividade letiva, incluindo para o treino da sua preparação, o que não tem qualquer sentido, tratando-se de aferição.

Desta aferição, não resultam nem mais apoios para as crianças e jovens com dificuldades, nem mais recursos humanos para as escolas. E são recursos e apoios que, em decisiva medida, as escolas carecem para a obtenção de resultados ainda mais positivos. Para ultrapassar as dificuldades mais do que diagnosticadas pelos professores, deveria existir uma efetiva redução do número de alunos por turma, a atribuição de mais recursos materiais e humanos às escolas, a redução da burocracia e, também, um efetivo rejuvenescimento do corpo docente.

A realização das provas em formato digital em nada altera nem a forma, nem o conteúdo, nem os efeitos positivos do presente programa de aferição. O que cria, no alunos, é mais ansiedade, pelo pouco domínio no uso do computador para a realização das provas, ao mesmo tempo que os professores ocupam ainda mais tempo da atividade letiva para ensinar e treinar competências digitais, reduzindo o tempo despendido para a recuperação das aprendizagens e a consolidação de conhecimentos. Desta forma, reduz-se a utilidade das competências digitais à sua aplicação na realização de uma prova.

Ao exigir que todas as escolas participem nas provas de aferição em suporte digital, e não apenas as que consideram ter capacidade tecnológica e competências digitais dos envolvidos (tal como no ano anterior), o Ministério da Educação (ME) introduz como objeto de avaliação as infraestruturas, conetividade, acesso a equipamentos digitais, bem como a consistência das competências para o uso de plataformas, distanciando-se, ainda mais, do propósito enunciado para as provas.

Considerando desnecessárias as provas de aferição para a identificação de dificuldades de aprendizagem, a Fenprof defende, desde há muito, que estas, a existirem, deveriam ser por amostragem (como já o foram), podendo realizar-se em qualquer momento do ano e não de acordo com um calendário pré-estabelecido, fixado no 3.º período. Na verdade, como continua a acontecer, estas não são provas para aferir, mas provas para instituir o paradigma e treinar para exames futuros que a atual equipa ministerial parece não ter a coragem política necessária para acabar de vez.

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